terça-feira, 29 de abril de 2014

Eu sou um fungo (paródia de 'Beijinho no ombro')

Eu sou u
Eu sou um fungo (paródia de 'Beijinho no ombro')
Diário de Biologia parabeniza todos os estudantes que "entregam a alma" aos estudos!
Paródia da música 'Beijinho no Ombro' da Valesca Popozuda. Feita para a ocasião de uma oficina de microbiologia 2014 realizada na UFRN.

EU SOU UM FUNGO
...
Desejo a todas minhas hifas vida longa
Pra que tu veja cada dia mais nossa vitória
Bolores, mofos, leveduras e as 'trufa'
'Vamo' estragar sua comida e te dar micose

Tenho parede, faço ela de escudo
Sou eucarionte com um núcleo bem seguro
A olho nu, quase não dá pra me ver
Posso ser pequeno, mas posso matar você!

Não sou uma planta, minha reserva é glicogênio
Como leveduuura realiiizo brotameeento
Posso ser bonzinho ainda bem que descobriu
Pega o preconceito e vai pra...

Eu sou um fungo, meus esporos voam longe
Eu sou um fungo, Cê sabe quem sou eu, então?
Eu sou um fungo, sou quem arrasa com os 'queijo'
Eu sou um fungo, faço decomposição

Paródia: Aquiles Sales (Estudante de Biomedicina na UFRN)
No YouTube: http://zip.net/bgnfdq
m fungo (paródia de 'Beijinho no ombro')

Diário de Biologia parabeniza todos os estudantes que "entregam a alma" aos estudos!
Paródia da música 'Beijinho no Ombro' da Valesca Popozuda. Feita para a ocasião de uma oficina de microbiologia 2014 realizada na UFRN.

EU SOU UM FUNGO
...
Desejo a todas minhas hifas vida longa
Pra que tu veja cada dia mais nossa vitória
Bolores, mofos, leveduras e as 'trufa'
'Vamo' estragar sua comida e te dar micose

Tenho parede, faço ela de escudo
Sou eucarionte com um núcleo bem seguro
A olho nu, quase não dá pra me ver
Posso ser pequeno, mas posso matar você!

Não sou uma planta, minha reserva é glicogênio
Como leveduuura realiiizo brotameeento
Posso ser bonzinho ainda bem que descobriu
Pega o preconceito e vai pra...

Eu sou um fungo, meus esporos voam longe
Eu sou um fungo, Cê sabe quem sou eu, então?
Eu sou um fungo, sou quem arrasa com os 'queijo'
Eu sou um fungo, faço decomposição

Paródia: Aquiles Sales (Estudante de Biomedicina na UFRN)
No YouTube: http://zip.net/bgnfdq

Vida no tubo de ensaio

Perfil Salvador Nogueira é jornalista de ciência e autor de sete livros
Perfil completo
 
Por Salvador Nogueira
29/04/14 05:43
Ao simular as condições dos oceanos da Terra primitiva, um grupo de cientistas liderado por Markus Ralser, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, testemunhou o surgimento espontâneo de reações químicas complexas que até então eram consideradas província exclusiva do metabolismo de seres vivos. A descoberta recém-publicada coloca a ciência um pouco mais perto de decifrar um dos maiores enigmas com que já deparou: a origem da vida.
Seria esse o berço da vida na Terra, uma fonte hidrotermal no fundo do oceano?
Seria esse o berço da vida na Terra, uma fonte hidrotermal no fundo do oceano?
O achado em essência demonstra que uma química muito complexa pode emergir sem a ajuda de enzimas — proteínas construídas por seres vivos que ajudam a promover as reações mais essenciais, como aquelas em que açúcares são convertidos em moléculas contendo energia para uso pelo organismo.
Mas, antes que você se anime demais, não, ainda não sabemos de fato como surgiram as primeiras formas de vida. O que temos até o momento são várias peças separadas de um quebra-cabeças que a natureza teve pelo menos vários milhões de anos para montar sozinha. Essa agora é só mais uma peça — e uma potencialmente bem importante.
ÁGUA, SUA LINDA
Não é à toa que os astrobiólogos hoje consideram a busca por água o fator primordial para tentarmos encontrar outras formas de vida no Universo. Ela cumpre papéis essenciais em todas as formas de vida conhecidas, e até agora não encontramos nenhuma outra molécula que possa servir de substituta.
Contudo, ela não faz todo o serviço sozinha — e em alguns casos pode até atrapalhar. Felizmente, os oceanos da Terra primitiva tinham muito mais que só água: em sua composição, identificada por meio de sedimentos marinhos, também havia grandes quantidades de ferro, além de fosfatos e outros metais.
Após recriar com a máxima fidelidade possível uma amostra desse oceano primitivo, que existia em nosso planeta cerca de 3,8 bilhões de anos atrás, os pesquisadores pegaram algumas moléculas complexas que eles sabem estar no “meio do caminho”, por assim dizer, de reações necessárias ao metabolismo dos seres vivos, e as adicionaram à mistura.
Nos seres vivos, essas moléculas são processadas com a ajuda de enzimas para chegar até suas formas finais, mais úteis. Ali, naquela amostra, não havia enzima nenhuma. O que aconteceria? Ficaria tudo na mesma? A água do oceano primitivo destruiria as moléculas?
O suspense tomou conta do laboratório durante as cinco horas em que as amostras permaneceram aquecidas a cerca de 70 graus Celsius. Quente demais para qualquer enzima que conheçamos, mas uma temperatura comum nas proximidades de fontes hidrotermais — estruturas que mais lembram chaminés no fundo do oceano, alimentadas pelo calor que emana das entranhas do nosso planeta. (Muitos cientistas acreditam que esses ambientes possam ter sido o berço das primeiras formas de vida, o que explica a escolha feita no experimento em questão.)
E aí, finalmente, a recompensa: os cientistas descobriram que o ferro ajudava a “empurrar” as reações químicas adiante, em rotas extremamente parecidas com as seguidas pelos metabolismos dos seres vivos modernos. Mas sem as enzimas para tocar o negócio! Entre as 29 reações metabólicas observadas, uma se destacou: a que produziu ribose-5-fosfato. Trata-se de uma molécula precursora do RNA — “primo” do DNA que é capaz, como ele, de armazenar informação genética e, portanto, se submeter aos processos evolutivos darwinianos.
Isso explica como a vida surgiu? Não. Mas mostra que algumas reações que antes achávamos complexas demais para ser executadas a partir de uma química prebiótica (ou seja, anterior à vida) na verdade acontecem em um experimento de meras cinco horas!
A ORDEM DOS FATORES
O resultado faz Ralser e seus colegas cogitarem que talvez seja o caso de repensar em que sequência aconteceram os eventos químicos imprescindíveis à origem da vida.
A visão mais tradicional, baseada nos primeiros experimentos que abordaram a questão, em 1953, sugere que primeiro surgiram as proteínas, capazes de fazer metabolismo. Mais tarde elas seriam reunidas aos ácidos nucleicos (DNA e RNA), protegidas num sistema fechado por uma cápsula de lipídeos, para formar as primeiras células vivas. Em resumo, a ordem dos fatores seria: proteínas -> metabolismo -> DNA e RNA
Uma visão mais moderna sugere que tudo pode ter começado com o RNA. A hipótese é motivada por sua versatilidade. Ele não só é capaz de guardar informação genética, a exemplo do DNA, como também pode conduzir certas rotas metabólicas, como as proteínas. Ou seja, ele poderia ser, sozinho, a base da vida. Só mais tarde, com a evolução, ele seria destronado da função de portador principal da informação genética pelo famoso DNA e ganharia a companhia de proteínas mais eficazes que ele para tocar esse negócio de metabolismo. Segundo esse esquema, teríamos: RNA -> metabolismo -> proteínas e DNA.
Uma dificuldade particular desse modelo é a de como fabricar RNA a partir de química prebiótica que envolva água. (O Mensageiro Sideral já abordou o trabalho de Steven Benner, que sugere que o RNA só poderia ter nascido em Marte e depois migrado para a Terra, tamanha a dificuldade em produzi-lo a partir de química simples em meio aquoso.)
A pesquisa de Ralser, contudo, pode apontar outra solução para o dilema. “Essas observações revelam que as sequências de reação que constituem o metabolismo central de carbono poderiam ter sido forçadas pelo ambiente oceânico rico em ferro do começo do Arqueano [cerca de 3,8 bilhões de anos atrás]“, escreveram os pesquisadores em trabalho publicado no periódico “Molecular Systems Biology”. Teríamos, portanto, primeiro de tudo o metabolismo, e depois RNA, proteínas e o DNA.
Uma vantagem dessa proposta é que, tendo metabolismo de saída, ainda que numa versão menos eficaz, mais primitiva, você poderia encontrar reações como as que formam o RNA, mesmo em ambientes aquosos. Outra vantagem é que um oceano que faz metabolismo sozinho, logo de cara, encurta bastante o caminho para formas de vida, explicando o porquê de os primeiros seres vivos terem surgido tão depressa no registro fóssil, praticamente assim que as condições na Terra foram favoráveis.
Uma terceira, especialmente pertinente para a busca por vida extraterrestre, é que não há por que não supor que outros oceanos espalhados pelo Sistema Solar, como os de Europa (lua de Júpiter) ou Encélado (de Saturno), não possam ter produzido circunstâncias similares, condutivas de metabolismo e, por fim, seres vivos.
Bacana, né? Mas não é o caso de comemorar muito. Afinal, não custa lembrar novamente que os pesquisadores já começaram seu experimento com moléculas de certa complexidade, e ninguém sabe ainda como o oceano primitivo poderia ter chegado a esse ponto inicial sozinho. Por isso, ainda é cedo até para dizer que o metabolismo de fato realmente precedeu RNA ou proteínas. Nenhuma das três rotas de surgimento da vida descritas brevemente acima foi descartada, no atual ponto do jogo.
Por enquanto, o enigma da origem da biosfera terrestre — o enigma da nossa origem, portanto — permanece sem solução. Mas a ciência se aproxima cada vez mais de fechar essa conta.
Acompanhe o Mensageiro Sideral no Facebook

terça-feira, 22 de abril de 2014

Crianças imunes a vírus podem ser a chave para o tratamento de doenças virais

 


Publicado em 20.04.2014
cellular-virus-wallpaper
Os vírus são criaturas terríveis e incompetentes, mas temos que admitir: eles são altamente inteligentes. Quando digo que são incompetentes, é porque são incapazes de produzir proteínas por conta própria. Por isso, invadem nosso organismo e “sequestram” as nossas, usando-as como abrigo. Assim eles ficam protegidos e conseguem se reproduzir, infestando nosso corpo os mais variados tipos de doenças.
E são absolutamente inteligentes por um motivo muito simples: em alguns casos, como o vírus da AIDS, a ciência e a medicina ainda não encontraram maneiras de detê-los. Pelo menos por enquanto.
Uma recente descoberta parece ter colocado a veracidade dessa afirmação em contagem regressiva, e os cientistas podem ter encontrado um novo caminho para o tratamento de doenças virais.

A descoberta

O caso de um casal de irmãos (um menino de 11 anos e uma menina de 6) foi relatado recentemente no New England Journal of Medicine e pode representar um novo e brilhante momento para a medicina. Os dois foram diagnosticados com uma doença genética extremamente rara que, resumidamente, fornece proteínas quebradas aos vírus que invadem seus organismos. Isso faz com que eles se tornem imunes a muitas classes de vírus.
Esses irmãos são apenas o segundo e terceiro caso já verificado com este raro distúrbio genético. A primeira foi constatada em um bebê que morreu com 74 dias. O maior problema é que a imunidade aos vírus, no entanto, tem um custo – tanto o menino quanto a menina têm problemas de desenvolvimento, ossos frágeis e um sistema imunológico drasticamente enfraquecido, o que torna ainda mais notável o fato de eles não terem doenças como infecções de ouvido ou gripe.
Todos esses efeitos colaterais acontecem porque essa mutação genética afeta um processo biológico básico chamado glicosilação, que é quando uma molécula de açúcar está ligada a uma proteína. Estas proteínas de açúcar resultantes são usadas ​​em todo o corpo, e também por vírus – que as roubam para construir uma espécie de escudo protetor para seu material genético. E quando essas proteínas de açúcar são perturbadas, a ação de vírus como os da gripe, herpes, dengue, hepatite C e até HIV é bloqueada, o que sugere novas possibilidades de tratamentos antivirais.

Possibilidades

Tratamentos antivirais podem bloquear temporariamente a glicosilação para prevenir a infecção viral sem os efeitos secundários devastadores de que falamos. Inclusive, algumas estratégias já estão sendo testadas, como uma droga que está atualmente sendo aplicada em pacientes com HIV. Segundo os médicos, os efeitos parecem promissores. “O pior efeito colateral foi flatulência”, disse o Dr. Sergio Rosenzweig.
Quanto a essas crianças, o distúrbio genético que elas têm é tão rara que ainda não é bem compreendida. No entanto, é uma nova perspectiva para a compreensão de como o corpo humano e os vírus interagem, abrindo portas para novas drogas que possam interferir em outras partes do processo de glicosilação e tratar outras infecções virais. Temos um longo caminho pela frente, mas estas duas crianças podem ser a chave para o segredo de como combater diversos vírus. [Gizmodo]

terça-feira, 1 de abril de 2014

A vida artificial já está aqui

Notícias » Notícias

       

Foto: El País
Cientistas de várias universidades norte-americanas e europeias alcançaram “o monte Everest da biologia sintética”, como dizem os editores da Science: o primeiro cromossomo eucariótico fabricado em laboratório.
A reportagem é de Javier Sampedro, publicada no jornal El País, 27-03-2014.
Trata-se de um cromossomo de levedura, o fungo usado na fabricação de cerveja, pão, biocombustível e em metade das pesquisas sobre organismos eucariontes, como nós. A capacidade de introduzir um cromossomo sintético nesse organismo permitirá melhorar todos os itens anteriores: fabricar biocombustíveis mais sustentáveis para o ambiente ou desenvolver novos antibióticos, além de todo um novo continente de pesquisa sobre a pergunta do milhão: como construir o genoma inteiro de um organismo superior. A reconstrução de um neandertal, por exemplo, seria impossível sem esse passo essencial.
A biologia sintética é uma disciplina emergente, que trata não de modificar organismos, mas sim de desenhá-los a partir de princípios básicos. Nos últimos cinco anos, foram obtidos avanços espetaculares, como a síntese artificial do genoma completo de uma bactéria e de vários vírus.
Mas esta é a primeira vez que se consegue fabricar um cromossomo completo e funcional de um organismo superior, ou eucarionte (ou célula boa, em grego, aquela que forma os humanos). O consórcio liderado por Jef Boeke, diretor do Instituto de Genética de Sistemas da Universidade de Nova York, apresenta seu revolucionário resultado na revista Science.
“Nossa pesquisa move o ponteiro da biologia sintética da teoria para a realidade”, diz Boeke, um dos pioneiros dessa área. “Esse trabalho representa o maior passo dado até agora no esforço internacional para construir o genoma completo de uma levedura sintética.”
Boeke iniciou esse projeto há sete anos em outra universidade, a Johns Hopkins, em Baltimore, recrutando 60 estudantes universitários em um projeto chamado Build a Genome (“construa um genoma”). As técnicas para sintetizar o DNA melhoraram muito na última década, mas costumam produzir pedaços sequenciados bastante curtos, com não muito mais do que 100 ou 200 letras (tgaagcct…). Os estudantes se ocuparam de reunir tais sequências sintéticas em pedaços cada vez maiores. O cromossomo final mede perto de 300.000 letras.
Que um marco científico se refira à levedura (Saccharomyces cerevisiae), um fungo unicelular que os antigos egípcios já usavam para fazer a cerveja, parece ser um bom paradoxo ou uma piada ruim, mas não é assim. A divisão fundamental entre todos os seres vivos da Terra não é a que existe entre plantas e animais, nem entre micro-organismos e espécies grandes ou macroscópicas: é entre procariontes (bactérias e arqueias) e eucariontes (todos os outros, inclusive nós).
E o importante da levedura é que, por mais que seja um organismo unicelular, recai no nosso lado da barreira. Não é exagerado dizer que a maior parte do que sabemos sobre a biologia humana se deve à pesquisa desse conhecido fungo de aparência modesta. A levedura tem 6.000 genes, sendo que compartilha um terço deles com o ser humano, apesar do 1 bilhão de anos de evolução que nos separam.
Os cromossomos são os pacotes em que se divide o genoma dos organismos superiores, ou eucariontes. São muito mais do que uma parte do DNA: estão empacotados em complexas arquiteturas formadas por centenas de proteínas que interagem com o material genético, como as histonas. São dotados de um centrômero, o maquinário especializado em distribuir uma cópia do genoma para cada célula filha em cada ciclo da divisão celular; e seus extremos estão protegidos por sistemas singulares, os telômeros, que garantem a integridade da informação genética em cada ciclo de replicação. Por isso o novo feito científico vai muito além da síntese do genoma de uma bactéria, algo que já se havia obtido anteriormente.
Os humanos têm o genoma dividido em 23 cromossomos (ou pares de cromossomos); a levedura distribui seu material em 16, e os cientistas se centraram no menor deles, o de número 3. Extraíram o cromossomo 3 natural do fungo e o substituíram por sua versão sintética, chamada synIII, que cobre as funções do seu homólogo natural, apesar de ter sido bastante alterado com todo tipo de elemento artificial concebido para facilitar sua manipulação no futuro imediato.
A fabricação de antibióticos é atualmente obra de micro-organismos
Que o cromossomo sintético funcione em seu ambiente natural, uma célula viva de levedura, é o verdadeiro marco do trabalho, segundo os pesquisadores. “Mostramos”, diz Boeke, “que as células de levedura que levam o cromossomo sintético são notavelmente normais; comportam-se de forma quase idêntica às leveduras naturais, exceto que agora possuem novas capacidades e podem fazer coisas que suas versões silvestres não conseguem fazer”.
A versão natural do cromossomo 3 do Saccharomyces cerevisiae tem 316.667 bases (as letras do DNA: a, g, t, c). A versão sintética é um pouco mais curta, com 273.871 bases, como consequência das mais de 500 alterações que os cientistas introduziram nele. Entre essas modificações se encontra a eliminação de muitos trechos de DNA repetitivo, que não têm função alguma, por estarem situados entre um gene e outro (sequências intergênicas) ou dentro dos próprios genes (íntrons).
Também eliminaram os transpósons, ou genes que saltam de uma posição para outra no genoma de todos os organismos eucariontes. O cromossomo artificial synIII também porta muitos trechos de DNA acrescidos pelos pesquisadores. O número total de mudanças de um ou outro tipo se aproxima de 50.000, e mesmo assim o cromossomo sintético continua sendo funcional.
Apesar das suas evidentes implicações para a biologia fundamental – é possível construir o genoma de um organismo superior, inclusive o ser humano, a partir de compostos químicos tirados de um pote na estante? –, o projeto tem objetivos sobretudo práticos. E não só em áreas industriais, como a fabricação de pão e bebidas, nas quais esse organismo sempre foi utilizado.
Já houve vírus e bactérias de laboratório
Uma das aplicações ressaltadas pelos autores é a melhora na produção de remédios como a artemisina, para a malária, ou a vacina contra a hepatite B. Como a maioria dos antibióticos provém de fungos, e a levedura é um deles, também não é descabido prever avanços na concepção e produção desses medicamentos.
Mais em longo prazo, as leveduras sintéticas podem facilitar a síntese de medicamentos contra o câncer, tais quais o Taxol, cuja síntese, por ser muito complicada e envolver muitos genes, gera obstáculos para as tecnologias convencionais. Numa área industrial muito diversa, essa tecnologia, conforme esperam seus autores, servirá para desenvolver biocombustíveis mais eficazes que os atuais, entre eles álcoois como o butanol, e também diesel de origem biológica.
E, obviamente, o synIII é só o primeiro dos 16 cromossomos da levedura que os pesquisadores conseguem sintetizar. As tentativas de repetir a façanha com os outros 15 cromossomos já estão em projeto, sendo incluídas em um programa internacional chamado SC 2.0, com a participação de cientistas dos Estados Unidos, China, Austrália, Cingapura e Reino Unido. No nome do projeto, SC alude a Saccharomyces cerevisiae, o nome científico da levedura da cerveja, e o 2.0 busca enfatizar até que ponto os seres vivos estão prestes a se parecerem com qualquer outro desenvolvimento tecnológico. O objetivo é construir um genoma completo de levedura, ou o primeiro organismo complexo sintetizado no tubo de ensaio.
Voltando os olhos mais para o futuro, cabe especular sobre a ressurreição de espécies extintas, como o mamute ou o neandertal, cujos genomas já foram sequenciados a partir de seus restos fósseis. Se esses projetos chegarem a ser iniciados algum dia, terão de se basear em uma técnica similar à que Boeke e seus colegas acabam de desenvolver para esse fungo enganosamente simples, mas que tão útil tem sido para a espécie humana desde os primórdios do neolítico.
Veja também:

Para ler mais: