sexta-feira, 26 de setembro de 2014

9 conselhos para proteger sua filha contra a violência doméstica


 
Publicado em 17.09.2014

violencia domestica
Pode parecer que o mundo é mais gentil com as mulheres hoje e, de fato, elas conquistaram muitos direitos que não possuíam no passado. No entanto, o respeito à mulher não depende só de leis, mas também é um processo cultural.
Felizmente, a figura está começando a mudar. Segundo o Balanço de 2013 da Central de Atendimento à Mulher – Disque 180, serviço prestado pela Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, naquele ano subiu de 50% para 70% o percentual de municípios de origem das chamadas. Também, cresceu em 20% a porcentagem de mulheres que denunciou a violência logo no primeiro episódio.
Ainda segundo o mesmo levantamento, os autores das agressões relatadas são, em 81% dos casos, pessoas com quem as mulheres têm ou tiveram vínculo afetivo.
Claro que parentes podem ser os agressores, mas em muitos casos a mulher acaba sofrendo nas mãos de um namorado ou marido. Sendo assim, os pais de meninas que se preocupam com sua segurança podem ajudá-las a se prevenir.
Por exemplo, alta autoestima aumenta a probabilidade de uma menina de encontrar relacionamentos saudáveis. Caso ela se envolva com um homem violento, será mais propensa a deixá-lo.
Confira as recomendações de nove especialistas sobre como educar filhas resistentes e fortes:

1. Dê o exemplo

Seja o modelo que você quer que sua filha copie. De acordo com a Dra. Michele Borba, educadora e autora de best-sellers, se você quer que ela seja assertiva, ela precisa te ver sendo assertiva, defendendo suas opiniões, mesmo que sejam impopulares. “Deixe sua filha saber que você valoriza as pessoas que dizem o que pensam. E diga-lhe que você honra suas opiniões”, afirma.

2. Ensine-a a questionar estereótipos

É fundamental ensinar seus filhos a questionar os estereótipos apresentados por meios de comunicação e pela cultura pop. Jennifer Siebel Newsom, cineasta e CEO e fundadora do The Representation Project, sugere que você incentive suas filhas a não aceitarem o sexismo e a violência gratuita como sendo a norma. “Ensine-as a questionar a narrativa tóxica que diz que meninos não podem ter emoções ou ser sensíveis, e que as meninas devem valorizar sua juventude, beleza e sexualidade acima de qualquer outra coisa”, explica.

3. Mostre-a o que é um relacionamento saudável

É importante para as meninas verem como funciona um relacionamento justo e respeitoso. Ensine suas filhas como elas podem discordar ou ter conflitos de uma forma saudável. “Ajude-as a aprender a desenhar limites do que é seguro e confortável para elas, e como comunicar seus desejos e sentimentos”, diz Esta Soler, presidente da organização contra a violência Futures Without Violence.

4. Ensine-a que aparência não é tudo

“Eu quase nunca digo aos meus filhos que o seu valor vem de sua atratividade. Se esforçar, ter boas notas, garra e educação recebem toda a atenção e validação em minha casa”, explica Nancy Hogshead-Makar, da fundação Women’s Sports Foundation. Além disso, segundo ela, desde os primeiros dias, é preciso reforçar para suas filhas que seus corpos lhes pertencem. Se elas pedem que você pare de fazer cócegas, por exemplo, é preciso que você pare – elas têm que ter controle sobre seu corpo.

5. Diga-lhe que casar ou ter um parceiro não é o mais importante

“A mensagem de que o amor de um homem deve ser o maior objetivo das mulheres rodeia esmagadoramente nossas filhas desde que elas são crianças”, argumenta Melissa Wardy, autora do livro “Redefining Girly” (em português, algo como “Redefinindo o que é feminino”). Os pais podem dar as suas filhas o conhecimento de que ter um homem em sua vida não será a sua maior conquista, nem vai defini-la. “Ao assegurar que nossas meninas cresçam para serem educadas, resistentes e autossuficientes, nós podemos garantir que elas não definam o seu valor a partir de fontes externas”, diz.

6. Mantenha um diálogo aberto com ela

Tenha conversas abertas com suas filhas, que permitam honestidade profunda, perguntas desconfortáveis e oportunidades para elas compartilharem as coisas que as fazem se sentir vulneráveis e inseguras. “É importante que vocês avisem que nada do que elas compartilharem com vocês será julgado. E é ainda mais importante se certificar de que vocês realmente não a julguem”, diz Jessica Weiner, CEO de Talk To Jess.

7. Explique que ela não é menos valiosa que um menino

“Desde os primeiros séculos, nossas crianças são inundadas com mensagens de que as meninas são menos valiosas do que os meninos, que são um mero objeto a ser sexualizado e valorizado pelos homens. Como resultado, muitas meninas crescem sem um forte senso de valor intrínseco, e todos esperam e aceitam maus tratos por parte de parceiros”, explica Carrie Goldman, autora do livro “Bullied: What Every Parent, Teacher, and Kid Needs to Know About Ending the Cycle of Fear” (em português, algo como “Pessoas que sofrem bullying: o que cada pai, professor e criança precisa saber para acabar com o ciclo de medo”). Segundo ela, para reverter esse pensamento, temos que contrariar as mensagens culturais que todas as nossas crianças – meninos e meninas – recebem sobre seus papéis no mundo.

8. Ajuda-a a empoderar-se

De acordo com a Dra. Robi Ludwig, psicoterapeuta, é preciso ajudar sua filha a se sentir bem sobre quem ela é. “Tenha grandes expectativas sobre o que ela pode realizar no mundo com base em seus pontos fortes. Ajude-a a ver-se não só pelo que e quem ela é, mas pelo que ela pode ser”, afirma. Também é interessante transmitir essa importância de ter altas expectativas para seus relacionamentos.

9. Ensine-a a respeitar-se

Muitas vezes os pais conversam com seus filhos sobre a necessidade de respeitar os outros, mas poucos ensinam o autorrespeito. Segundo a Dra. Robyn Silverman, especialista em desenvolvimento infantil e adolescente, as meninas precisam aprender a se dar valor. Somente respeitando a si mesmas é que elas vão obter respeito dos outros. [Forbes, CeA]

Uma em cada três mulheres sofre violência doméstica

 


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Cerca de um terço das mulheres em todo o mundo já foram agredidas fisicamente ou sexualmente por um ex ou atual parceiro.
A conclusão é de uma revisão de uma série de artigos feita pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Especialistas também estimam que cerca de 40% das mulheres assassinadas no mundo foram mortas por um parceiro íntimo, e que ser agredida por um parceiro é o tipo mais comum de violência sofrida pelas mulheres.
“A violência contra as mulheres é um problema global de saúde de proporções epidêmicas”, afirma a diretora geral da OMS, Dra. Margaret Chan.

A revisão

A OMS definiu a violência física como ser golpeada, empurrada, perfurada, sufocada ou atacada com uma arma. Violência sexual foi definida como ser fisicamente forçada a ter relações sexuais, ter relações sexuais porque está com medo do que seu parceiro possa fazer e ser obrigada a fazer algum ato sexual considerado humilhante ou degradante.
Quanto a violência doméstica, os cientistas analisaram informações de 86 países com foco em mulheres com mais de 15 anos de idade. Eles também avaliaram estudos de 56 países sobre a violência sexual feita por alguém que não fosse um parceiro, embora não tivessem dados do Oriente Médio.
O relatório descobriu que cerca de 7% das mulheres em todo o mundo já tinham sido vítimas de violência por parte de alguém que não era um parceiro.
Globalmente, a OMS descobriu que 30% das mulheres são afetadas por violência doméstica ou sexual vinda de um parceiro. O relatório foi baseado em grande parte em estudos de 1983 a 2010.
De acordo com as Nações Unidas, mais de 600 milhões de mulheres vivem em países onde a violência doméstica não é considerada um crime.
A taxa de violência doméstica contra as mulheres foi maior na África, no Oriente Médio e no Sudeste da Ásia, onde 37% das mulheres sofreram violência física ou sexual de um parceiro em algum momento de sua vida. A taxa foi de 30% na América Latina e na América do Sul, e 23% na América do Norte. Na Europa e na Ásia, foi de 25%.
Em um artigo relacionado publicado online na revista Lancet, os pesquisadores descobriram que mais de 38% das mulheres assassinadas no mundo são mortas por um ex-parceiro ou atual, número seis vezes maior do que a taxa de homens assassinados por suas parceiras.
Heidi Stoeckl, uma das autoras deste estudo, disse que os números podem ser ainda maiores. Ela e seus colegas descobriram que, globalmente, o maior risco de assassinato de uma mulher vêm de um atual ou ex-parceiro.
Em países como a Índia, mulheres são muitas vezes assassinadas por conta de “crimes de honra”, como infidelidade, ou devido a disputas por dotes. Nestes casos, segundo Stoeckl, o assassinato serve para “proteger a reputação da família”.
Ela também observou que mulheres e homens são muitas vezes mortos por seus parceiros por motivos diferentes. “Quando uma mulher mata seu parceiro, geralmente é autodefesa, porque ela foi abusada”, disse. “Mas quando uma mulher é assassinada, é muitas vezes depois que ela resolveu terminar o relacionamento e o homem mata por ciúmes ou raiva”.

Prevenção é importante

Em conjunto com o relatório, a OMS emitiu orientações para as autoridades detectarem esses tipos de problemas mais cedo do que costumam.
Os especialistas disseram, por exemplo, que todos os profissionais de saúde devem ser treinados para reconhecer quando as mulheres podem estar em risco e como responder de forma adequada.
Alguns especialistas dizem que a triagem para a violência doméstica deve ser adicionada a todos os níveis de cuidados de saúde, como clínicas obstétricas.
“É improvável que alguém entre em um hospital para informar que foi atacada”, disse Sheila Sprague, da Universidade McMaster, no Canadá, que pesquisou a violência doméstica em mulheres em clínicas ortopédicas. “Com o tempo, no entanto, se as mulheres entram em uma clínica para tratar uma fratura ou uma clínica de pré-natal, elas podem dizer que estão sofrendo abuso, se você perguntar”, argumentou.
Stoeckl disse que as autoridades da justiça criminal devem intervir numa fase mais precoce. “Quando uma mulher é assassinada por um parceiro, ela muitas vezes já teve contato com a polícia”, disse ela.
Mais medidas de proteção devem ser tomadas nesses casos, principalmente quando ele ou ela tem um histórico de violência e possui uma arma. “Há sinais suficientes pelos quais devemos procurar”, afirma.

O que fazer em caso de violência doméstica ou sexual

Segundo a pesquisa Percepções sobre a Violência Doméstica contra a Mulher no Brasil, realizada pelo Instituto Avon / Ipsos entre 31 de janeiro a 10 de fevereiro de 2011, seis em cada dez brasileiros conhecem alguma mulher que foi vítima de violência doméstica.
No Brasil, as mulheres são protegidas pela Lei Maria da Penha. Mesmo que a própria vítima não denuncie o abuso ou acuse o perpetrador, pessoas que sabem de algum caso de violência doméstica e sexual podem denunciar.
Ainda segundo a pesquisa do Instituto Avon / Ipsos, 94% das pessoas conhecem a Lei Maria da Penha, mas apenas 13% sabem seu conteúdo. A maioria das pessoas (60%) pensa que, ao ser denunciado, o agressor vai preso.
A lei garante a proteção da mulher que sofreu violência, mas depois do registro da ocorrência, a autoridade precisa ouvir ambas as partes e colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato.
Segundo levantamento realizado em 2011 pela Pesquisa DataSenado, o medo continua sendo a razão principal (68%) para evitar a denúncia dos agressores. Em 66% dos casos, os responsáveis pelas agressões foram os maridos ou companheiros.
Enquanto isso, a pesquisa Mulheres Brasileiras nos Espaços Público e Privado feita em 2010 pela Fundação Perseu Abramo em parceria com o SESC afirma que uma em cada cinco mulheres consideram já ter sofrido alguma vez “algum tipo de violência de parte de algum homem, conhecido ou desconhecido”.
Diante desses números e do desconhecimento da lei por muitas mulheres, é dever de quem tem o conhecimento ajudar. Caso você tenha sido vítima de qualquer abuso ou conheça alguém que foi, denuncie.
A Lei Maria da Penha prevê cinco tipos de agressão contra a mulher:
  • Violência física;
  • Violência psicológica;
  • Violência sexual;
  • Violência patrimonial;
  • Violência moral.
Qualquer uma dessas agressões contra a mulher deve ser denunciada na Central de Atendimento à Mulher através do número 180, que funciona 24 horas por dia. O anonimato da vítima ou de quem faz a denúncia de agressão é garantido.
A denúncia pode ser feita pela mulher ou qualquer pessoa próxima a ela. A Central de Atendimento à Mulher oferece informações sobre a Lei Maria da Penha e atendimento psicológico, jurídico e social à vítima, além de orientar sobre como agir e procurar ajuda.
A mulher agredida também pode ligar para a polícia no 190, ou prestar queixa em qualquer delegacia, para depois pedir que seu caso seja encaminhado a uma Delegacia de Defesa da Mulher.
O número 100 também é um disque-denúncia e ajuda em casos de agressões sexuais contra crianças e adolescentes, tráfico de mulheres e pornografia infantil.
Para saber mais sobre o conteúdo da Lei Maria da Penha, clique aqui.[MedicalXpress, APG, PortalBrasil, R7]