HPV está ligado a câncer em homens
- 10 de fevereiro de 2012 |
- 23h07 |
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Categoria: Saúde, Saúde Pública
FELIPE ODA
O HPV (sigla em inglês para vírus do papiloma humano), responsável por 98% dos casos de câncer de colo de útero, a segunda neoplasia mais frequente entre as brasileiras, não é mais um inimigo apenas da mulher. A relação entre o vírus e os casos de câncer de pênis começa a ser comprovada graças a um estudo brasileiro, a maior pesquisa molecular já feita sobre a doença.
Pesquisadores do Hospital A.C. Camargo, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e do Hospital de Câncer de Barretos identificaram em pacientes com diagnóstico de câncer peniano alterações genéticas semelhantes às que o HPV provoca em mulheres com câncer de colo uterino.
Para comprovar a relação do HPV com o câncer peniano, uma doença de tratamento delicado, sendo muitas vezes necessária a amputação do órgão, o A.C. Camargo organizou uma pesquisa com 42 pacientes diagnosticados com a neoplasia.
O estudo identificou a presença do vírus em 30% dos tumores. “Assim como ocorre nos casos de câncer de colo (útero), observamos que o HPV está associado a alterações de genes do sistema imune e de resposta inflamatória nos homens com câncer de pênis”, diz Ariane Fidelis Busso, autora da pesquisa.
Responsável pelo setor de urologia do Instituto Nacional do Câncer (Inca), Antonio Augusto Ornellas de Souza diz que “as proteínas virais (do HPV) poderiam tornar cancerígenas as células masculinas, assim como ocorre com os genes femininos”.
Além das alterações imunológicas e inflamatórias, o HPV também modificaria a região do cromossomo 19 em homens com câncer peniano. “São marcadores prognósticos encontrados na pesquisa que, no futuro, poderão direcionar melhor o tratamento”, garante Ariane.
Segundo a pesquisadora, mapeando as alterações genéticas provocadas pelo câncer de pênis, inclusive as desencadeadas pelo HPV, será possível criar medicamentos para cada caso de câncer peniano. “Hoje, isso ocorre, por exemplo, no tratamento do câncer de mama. A mulher é diagnosticada e o tipo de câncer é detalhado para direcionar o tratamento”, explica.
Semelhanças
Outra semelhança apontada pela pesquisa do A.C. Camargo na relação entre o HPV e os casos de câncer de colo de útero e os tumores de pênis é a prevalência do subtipo 16 do vírus nos pacientes– existem mais de 200 tipos de HPV. Segundo o Inca, cada um deles é classificado em “baixo risco” ou “alto risco” de causar câncer.
“Constatamos que 85% do homens que tinham o HPV estavam contaminados com o subtipo 16, considerado de alto risco oncogênico”, diz Ariane. “A prevalência do subtipo 16 em casos de câncer de pênis é mais um indício de que o HPV seja cancerígeno para homens e mulheres”, ressalta Souza.
Em 2007, o Inca e o Instituto de Virologia da Fundação Oswaldo Cruz divulgaram uma pesquisa que havia encontrado o HPV em 75% dos casos de câncer de pênis no País. Mas ainda não se sabia qual era o mecanismo de atuação do vírus no homem e se havia, de fato, uma relação com o tumor.
Naquele momento, a dúvida era se o HPV estava na origem do câncer (de pênis) ou se o achado era apenas uma coincidência, relacionado ao sexo desprotegido. “Mas tudo leva a crer que ele está na origem”, afirma Aguinaldo Cesar Nardi, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU).
Ainda restam dúvidas sobre os motivos que levam o HPV a ser mais cancerígeno nas mulheres. “Imaginamos que a proporção de homens e mulheres contaminados com HPV é parecida. Portanto, a incidência de casos de câncer uterino maior que os de peniano nos mostra que mulheres são mais suscetíveis. Só não sabemos o motivo”, diz Souza. O câncer de pênis responde por 2% das neoplasias em homens.
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