domingo, 27 de maio de 2012

Sem educação formal, irmãos ganham prêmios

Fora de escola desde 2006, os jovens estudam em casa apenas os temas que lhes interessam e não pensam em cursar faculdade


26 de maio de 2012 | 21h 44

Ocimara Balmant e Fernanda Bassette, de O Estado de S. Paulo
Atualizado às 10h51
Davi e Jônatas estão com as malas prontas para a primeira viagem ao exterior: vão para a Califórnia em agosto. Ganharam as passagens e a estadia para a Campus Party americana após vencerem um concurso na edição brasileira do evento.
Por aqui, eles concorreram com mais de 7 mil "nerds", egressos dos cursos de Engenharia e Ciência da Computação. O currículo dos campeões, no entanto, é bem mais modesto. Eles abandonaram a escola antes de concluir o ensino fundamental.
Os dois foram educados pelos próprios pais, em casa. "Se eu estivesse no colégio, estaria entrando na universidade. Em casa, foquei apenas no que gosto. Não perdi tempo nas disciplinas que não me interessam", diz Davi, de 19 anos. Jônatas, um ano mais novo, alfineta: "Mesmo porque o melhor é ter uma boa ideia. Depois, se for preciso, coloco um engenheiro para programar".
A cada afirmação, os dois olham de soslaio para o pai, sentado no sofá ao lado e se segurando para ele mesmo não responder a todas as perguntas. A cada prêmio dos filhos - só nos primeiros quatro meses deste ano eles já ganharam cerca de R$ 30 mil em concursos - Cléber Nunes se convence ainda mais da decisão tomada no fim de 2005, quando Jônatas e Davi terminaram a 5.ª e a 6.ª série.
"Mas, mesmo com todos esses prêmios, ainda dizem que neguei educação para os meninos", diz o pai, referindo-se ao crime de abandono intelectual pelo qual ele e a mulher, Bernadeth Nunes, foram condenados em 2010. Também teriam de pagar uma multa, estimada hoje em R$ 9 mil, pela condenação em um processo na área cível por descumprir o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). "Não quitamos porque temos certeza de que nossos filhos receberam instrução adequada", afirma a mãe.
Quem a vê tão convicta nem imagina que ela era terminantemente contra a decisão do marido. Tanto que, na primeira tentativa de Cleber, no fim de 2004, Bernadeth vetou a ideia. Para convencer a mulher, ele foi aos Estados Unidos, conheceu famílias que praticavam o ensino domiciliar e trouxe uma mala cheia de material sobre o tema.
Começava aí seu processo de "doutrinação" que só tem ganhado adeptos. A mais nova convertida é a pequena Ana, a caçula da família. Aos 5 anos, ela já sabe ler e escrever, é fluente em inglês e, apesar de nunca ter frequentado uma escola, tem uma opinião formada sobre o que se aprende na instituição: "Nada".
Informal. A sala de aula da menina é um cantinho do escritório coletivo que fica no térreo do sobrado em que a família vive, no município mineiro de Vargem Alegre. No espaço, as bonecas ficam junto dos livrinhos de tecido costurados por Bernadeth.
Enquanto a mãe ensina a menina a ver as horas, Jônatas desenvolve um software para informatizar as mercearias do município, e Davi é capaz de se esquecer de comer só para programar os códigos que darão origem a um programa capaz de ajudar os candidatos a vereador e a prefeito a mapear redutos eleitorais e traçar estratégias de comunicação.
Creditam todo o aprendizado à técnica implementada pelo pai, autodidata que saiu da escola no 1.º ano do ensino médio.
Assim que os tirou da colégio, Cléber os ensinou lógica, argumentação e aritmética, base a partir da qual eles poderiam estudar o que lhes conviessem. Davi e Jônatas decidiram ignorar disciplinas como química, biologia e geografia. "Por que eu deveria saber o que são rochas magmáticas?", questiona Jônatas.
Das disciplinas oficiais, ficou somente o inglês. Para estimular a fluência, Cléber comprava cursos de informática em inglês e pedia que os filhos legendassem documentários.
Atualmente, cada um faz seu currículo e seu horário. Mas nunca são menos de seis horas diárias, seis dias por semana. Jônatas, webdesigner, dispersa fácil, tanto que decidiu sair do Facebook para não perder tempo. Davi, programador, é mais centrado, cumpre à risca a grade horária colada no mural do seu quarto, ao lado de onde se vê um versículo bíblico em hebraico, idioma que ele aprendeu sozinho com o intuito de compreender melhor textos do livro sagrado.
Motivação. A retirada dos filhos da escola coincidiu com a decisão da família por uma vida mais simples e de retorno a padrões morais descritos na Bíblia.
Cléber abriu mão de sua empresa de produtos de aço inoxidável, como troféus e placas de honra, para fabricar as peças no quintal de casa. Bernadeth, que era decoradora e cursava Arquitetura, abandonou o curso e, desde então, dedica-se a cuidar da casa e a alfabetizar a filha.
Por fim, trocaram a cidade de Timóteo, com 80 mil habitantes, pela pequena Vargem Alegre, de apenas 7 mil moradores e quase nenhuma opção de lazer. "O pai nos comunicou sobre a mudança. No começo, estranhamos, mas agora já me acostumei com o passeio na pracinha da igreja", diz Davi.
Vez ou outra, jogam futebol com os vizinhos e viajam a Timóteo para encontrar os primos e os ex-amigos de escola. No dia a dia, e sem TV em casa, os cinco estudam, trabalham, fazem as refeições e divertem-se assistindo a vídeos do Youtube. Mas não cansa ficar tanto tempo juntos? Pelo jeito, não. Como acompanhantes da viagem à Califórnia, os meninos não hesitaram: vão levar o pai e a mãe.
Educadores divergem sobre metodologia de ensino fora da escola
Profissionais da educação divergem sobre a possibilidade de pais educarem seus filhos em casa, fora do ambiente escolar. A pedagoga Maria Celi Chaves Vasconcelos, professora na Universidade do Estado do Rio de Janeiro e na Universidade Católica de Petrópolis, fez uma pesquisa de pós-doutorado analisando a prática no Brasil e em Portugal. Aqui, a legislação não permite. Lá é liberado, dentro de algumas regras - entre elas, avaliação periódica.
"Apesar de ser um tema envolto em preconceito, que ainda recebe muitas críticas, as mudanças estão começando e mostram que existem outras maneiras de educar as crianças que não seja na escola", diz Maria.
Para o pedagogo Fábio Stopa Schebella, diretor pedagógico da Associação Nacional de Ensino Domiciliar, o preconceito contra o método é falta de informação. Ele, que já deu aulas em escolas regulares, hoje presta consultoria pedagógica para algumas famílias que ensinam os filhos em casa.
"Há uma crença equivocada de que as crianças que são educadas em casa não se socializam ou não aprendem direito. E isso é um erro. Elas têm rendimento até melhor, tanto na parte intelectual quanto social", afirma.
Equívoco. Quem tira os filhos da escola lhes rouba a oportunidade de se desenvolver integralmente, diz a professora Silvia Colello, da Faculdade de Educação da USP. "Nem a baixa qualidade e a falta de segurança das escolas justificam uma opção radical como essa. Esse tipo de ensino pode preparar a pessoa para o trabalho, mas não para o mundo."
Além disso, segundo Silvia, há um problema curricular. Em casa, muitos pais optam por privilegiar os temas de interesse do filho em detrimento de outras disciplinas. "É interessante que a família esteja atenta para captar os interesses e aptidões, mas cabe aos pais abrir perspectivas para novos interesses. Como é que o adolescente diz que não gosta de física, se ele nunca estudou a disciplina?"
O argumento de que é direito dos pais decidir o modelo mais apropriado de ensino é rebatido pelos educadores contrários à educação domiciliar: o direito da criança de frequentar a escola é que deve prevalecer.
A aceitação dos filhos a esse modelo de ensino, argumenta a pedagoga, tem mais relação com a falta de opção do que com a satisfação. "A maioria das crianças ou nunca foi à escola ou dela foi tirada muito cedo. Não têm parâmetros para comparar porque não conheceram o lado de cá."
Leis brasileiras não permitem ensino em casa
A legislação brasileira em vigor determina que os pais ou responsáveis matriculem as crianças na rede regular de ensino - o que torna ilegal, portanto, a prática do ensino domiciliar.
O artigo 6 da lei 9394/96 (Lei de Diretrizes e Bases) diz que "é dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula dos menores, a partir dos 6 anos de idade, no ensino fundamental". Já o artigo 55 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) determina que os pais ou o responsável têm a obrigação de matricular os filhos ou pupilos na rede regular de ensino.
O Código Penal, em seu artigo 246, diz que é crime de abandono intelectual "deixar, sem justa causa, de prover a instrução primária de filho em idade escolar".
As famílias que defendem a educação fora da escola se baseiam no artigo 26.3 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, um tratado internacional ratificado pelo Brasil, que diz "que os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos".
O Ministério da Educação informou, por meio de sua assessoria, que não se manifesta em relação ao tema, pois se trata de uma questão jurídica/legal.
Permissão. Embora a legislação não permita a prática, há um projeto de lei do deputado Lincoln Portela (PR-MG) em tramitação na Câmara dos Deputados pedindo a regulamentação da educação básica domiciliar. O ensino deve ser realizada pelos pais, mas com supervisão e avaliação periódica.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Google lança site para ensinar estudantes a melhorar pesquisas

 


Search Education reúne tutoriais para otimizar buscas e avaliar a credibilidade da fonte


11 de maio de 2012 | 16h 16

Patrícia Gomes, do portal Porvir
Se você digita uma palavra no Google, em menos de um segundo o buscador vai apresentar alguns milhares de resultados que mencionam o termo. Alguns deles, de fato, podem ajudar muito na sua busca; outros, nem tanto. Para ensinar estudantes e professores a separar o joio do trigo e ajudá-los a fazer pesquisas mais qualificadas, o Google lançou, este mês, o site Search Education (www.google.com/insidesearch/searcheducation).
Ainda completamente em inglês, o site é voltado a professores interessados em ensinar estratégias de pesquisa a seus alunos ou a usuários que querem otimizar suas buscas. “Nós decidimos ensinar a pesquisar porque o Google tem uma gama de ferramentas, mas a maioria das pessoas só conhece parte delas”, diz Tasha Bergsin-Michelson, educadora do Google.
Uma das seções do site é a Lessons Plans, ou planos de aula, em português. Nela, é possível encontrar os tutorias em três níveis de dificuldade que ensinam educadores com mais ou menos intimidade com o Google a pesquisar. Os vídeos dão dicas de como escolher os termos de pesquisa mais adequados, entender o resultado da busca, restringir a pesquisa para chegar a melhores resultados e até avaliar a credibilidade da fonte de informação.
A estratégia do Google de falar aos professores tem como objetivo fazer o treinamento chegar aos alunos para torná-los capazes de aprender sozinhos e de ser bons questionadores. “Nós precisamos cultivar a autonomia da aprendizagem nos nossos estudantes, para que, quando eles saírem para o mundo, depois do ensino médio, na faculdade, na carreira ou na vida, eles saibam como pesquisar e pensar criticamente”, diz Anne Arriaga, bibliotecária e membro da equipe de educadores do Google.
No Search Education, os professores encontram também uma série de sugestões para desafiar os alunos. Dividido por disciplinas como história, geografia, biologia, o Google Day Challenge propõe atividades em que os estudantes serão testados tanto no conhecimento da matéria quanto nas ferramentas do buscador. Pelo site, o professor recebe dicas de como conduzir o exercício.
As atividades específicas foram desenvolvidas a partir do currículo norte-americano e, por enquanto, não há previsão de que a ferramenta seja traduzida ou adaptada para o ensino brasileiro. Para os vídeos gerais, que falam sobre as funcionalidades do Google, no entanto, as dicas podem ser muito úteis.
O único problema é que todos os tutoriais são em inglês. Quem não domina o idioma, porém, pode recorrer à ajuda do próprio Google para decifrá-los. Ao clicar no botão CC, na parte inferior da tela, é possível selecionar a opção de ter a transcrição do áudio. Com o áudio transcrito, é só jogar o texto para ser traduzido pelo Google Tradutor.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Nova espécie de humanos é descoberta na China, fossilizada

 


Em 1979, paleontólogos descobriram uma caveira humana enterrada no sudoeste da China, mas com formato um pouco diferente do convencional: a face era curta e chata, com ossos grossos, testa proeminente e ausência de queixo. Durante 33 anos, este fóssil tem sido analisado. Agora, cientistas australianos afirmam se tratar de uma variação primitiva do Homo sapiens que ainda não havia sido documentada.
Os paleontólogos que conduziram as pesquisas são da universidade de Nova Gales do Sul, em Sydney (Austrália). A teoria mais aceita por eles, que é defendida também por pesquisadores chineses, afirma que este crânio pertenceu ao descendente de uma linhagem evolutiva que se iniciou na Ásia oriental, há cerca de 200 mil anos. Tal hominídeo teria sido, assim como os Neandertais, uma versão que evoluiu paralelamente aos seres humanos, até ser extinta.
A gruta onde este crânio foi encontrado é chamada de “Caverna do Veado Vermelho”, local notório por intensa atividade de descobertas arqueológicas. Lá já foram achados fósseis humanos de apenas 11 mil anos atrás, quando o Homo sapiens já estava, digamos, “consolidado”.
A genética pode ser uma ferramenta fundamental para novas descobertas, mas até agora não foi possível retirar DNA destes fósseis para analisá-lo. Este é o novo desafio dos cientistas australianos. [New Scientist]

Os três maiores mistérios da evolução humana

Apesar de muitos estudos e teorias já terem sido formulados, ainda há muito debate sobre como exatamente nos tornamos, ao longo de centenas de milhares de anos, a espécie humana que somos hoje. Três questões, em específico, dividem opiniões entre os cientistas e curiosos em geral. Aprenda um pouco mais sobre estes pontos:
1 – Bipedalismo

Charles Darwin dizia que os ancestrais do Homo sapiens passaram a caminhar sobre dois membros ao invés de quatro por conveniência: foi uma adaptação para deixar nossas mãos livres para criar ferramentas, o que acelerou a evolução. Essa tese já foi derrubada: hominídeos se tornaram bípedes há mais de 4 milhões de anos, enquanto as ferramentas mais antigas de que se tem registro não passam de 2,6 milhões.
Ainda não há certeza sobre o motivo real. Alguns defendem que ser bípedes nos fez mais altos, o que é uma vantagem para visualizar presas e predadores. Outros afirmam que andar sobre duas pernas nos fez mais rápidos e hábeis, ampliando o território por onde podíamos nos expandir e instalar. É claro que talvez seja uma mistura de várias razões.
2 – Perda de pelos

Mamíferos têm o corpo coberto de pelos por proteção: com maior capacidade de conservar a temperatura corporal, os animais podem se instalar em regiões mais frias e inóspitas. Mas os antecessores do Homo sapiens acabaram fazendo o caminho oposto, e também há mais de uma teoria para o que levou a isso.
Uma das ideias afirma que foi o contato com a água. Passando mais tempo de vida nadando em lagos ou rios, fomos perdendo a necessidade de tanta pelagem. É por isso que os mamíferos aquáticos (como a baleia, por exemplo) não precisam disso.
Outra corrente de pensamento, no entanto, defende que a perda dos pelos aconteceu quando os hominídeos deixaram as florestas e passaram a viver também em savanas, onde não há proteção contra os raios solares e poderíamos nos superaquecer. Logo, fomos perdendo a “cobertura”.
Essa teoria parece mais sensata, com um único porém: alguns animais, como leões e zebras, vivem perfeitamente bem e recobertos de pelos nas savanas africanas, onde as temperaturas são sempre altíssimas. O mistério, portanto, continua no ar.
3 – Aumento do cérebro

Nosso desenvolvimento encefálico, e estamos falando mesmo em aumento do tamanho do cérebro, impulsionou a evolução do Homo sapiens. Neste ponto, nossa distinção dos outros primatas é clara. Enquanto os macacos não podem ter um cérebro muito grande porque as mandíbulas fazem muita força e pressionam o crânio com violência, uma mutação genética teria feito os hominídeos se livrarem deste problema.
A maioria dos cientistas sempre imaginou que o cérebro humano foi pouco a pouco crescendo e nossa capacidade foi aumentando. Mas há quem pense o contrário: as novas habilidades adquiridas ao longo do tempo é que foram conferindo mais complexidade ao cérebro.
Uma nova adaptação é que incitava um novo desenvolvimento do cérebro, e isso teria acontecido incontáveis vezes ao longo da nossa linha evolutiva. [New Scientist]

Origem da amizade pode ser muito mais antiga do que pensamos

 


Assim como os humanos, animais também se beneficiam de possuir amigos. Novos estudos mostram que animais que podem contar com outros – para se coçar, dividir comida ou fazer um gesto de amizade – têm mais chances de se reproduzir e conseguem encarar melhor as doenças.
Isso sugere que a necessidade de confiança e companhia é mais antiga do que pensamos. Se isso for verdade, a amizade pode oferecer vantagens evolucionárias.
“Esse fenômeno está começando a parecer algo muito antigo na evolução, que é dividido por muitas espécies sociais”, afirma a bióloga Dorothy Cheney.
Estudos com macacos, cavalos e chimpanzés mostram que eles são seletivos na hora de escolher com quem passar tempo ou comer. Outro trabalho atual revela que um hormônio de ligação social torna os macacos mais generosos uns com os outros. Pesquisas mostram que fêmeas de elefantes, golfinhos e roedores com boas amigas têm mais chance de ter mais crias e viver mais.
São muitas as linhas de pesquisa. Analisar todos esses fatores pode trazer pistas para a origem e evolução que faz dos humanos seres tão sociais.
Eu te protejo
Os cientistas sabem há tempos que os animais formam laços. Primatas e cavalos que passam mais tempo próximos geralmente são mais amigos e menos agressivos uns com os outros. Chimpanzés e elefantes dividem comida, confortam os machucados e parecem ficar mal quando seus parentes morrem.
Mesmo assim, por décadas, a visão mais comum era de que as interações aconteciam apenas entre os animais muito próximos (familiares). Laços formados entre animais sem parentesco eram supostamente passageiros, realizados para conseguir um benefício imediato. Mas agora os cientistas sabem que isso não é verdade. E evidências indicam que um animal pode fazer algo para ajudar outro, sem ser da família, para receber algum benefício posterior.
Em termos estritamente evolucionários, os parentes se ajudam para promover a sobrevivência do material genético. Mesmo assim várias espécies formam laços com aqueles que não carregam a mesma genética.
Chimpanzés machos formam coalizações, e tomam parte de um lado, mas não de maneira aleatória. Eles ficam junto daqueles que futuramente vão ajudá-los. Um estudo de 2009 mostrou que 22 entre 28 chimpanzés formaram seus laços mais fortes de amizade com um outro com o qual não tinham parentesco, com algumas amizades durando uma década ou mais.
O maior fator para justificar a amizade entre animais – principalmente os machos – é evitar conflitos, e ter mais integrantes para defender o território e o grupo. Mas eles, e nós também, fazemos amigos por outra razão também: porque dá uma sensação boa. Não apenas é relaxante como também dá um efeito positivo na saúde.
Estudos detectaram a ocitocina – um dos hormônios que é secretado em situações prazerosas – nos macacos sociais, que eram também mais generosos com os outros. Mais pesquisas serão feitas ainda, para analisar também o lado neural desse tipo de relação no mundo animal.
Como você pode ver, amizade não é algo apenas humano, mas histórico na natureza. Viva os amigos! [ScienceNews]

Será possível a existência de planetas inteligentes?

 


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Por em 10.04.2012 as 16:00
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Você lembra do planeta “vivo” de Avatar, que conversava com seus habitantes através de estranhas ligações? Será que um planeta assim, consciente, com todos os seres conectados, um planeta vivo e inteligente, existe?
Até agora, a ideia de um planeta inteligente parece ser um pouco utópica. Os cientistas dizem que, baseado na química e no comportamento das coisas vivas e não vivas – que conhecemos, claro – você não deve apostar em um Pandora, por exemplo.
“Do modo como a evolução funciona, não vejo isso acontecendo”, afirma o cientista Peter Ward, da Universidade de Washington, EUA.
Megafauna
Os planetas são formados com a junção do gás e poeira cósmicos que sobram da formação estelar. Do que já conhecemos dos planetas, rochas, líquidos e gases aglomerados, não há como um planeta desenvolver algum tipo de consciência.
O único caso planetário que chegou um pouco mais perto disso foi a Terra, que eventualmente foi povoada por moléculas que se autorreplicavam e carregavam informações.
“Nós temos que usar a história da Terra como guia”, afirma Ward. E com isso a ideia de um superorganismo gigante cai por terra.
Drenagem cerebral
São necessários um cérebro muito grande e um sistema nervoso muito desenvolvido para que certa inteligência seja exibida.
E para isso é preciso muita energia. Nosso cérebro corresponde a 3% do nosso corpo, mas consome 20% da nossa energia. Poucas criaturas desenvolvem mais inteligência do que as pressões evolucionárias exigem.
Se pensarmos em algum tipo de massa viva que cobriria a terra inteira, tornando o planeta inteligente, sua necessidade parece ser muito pequena.
A competição entre as espécies, pelos recursos naturais, é outro ponto que impede a ideia de um planeta inteligente. Não apenas as espécies competem entre si, mas tentam se aproveitar e passar por cima das outras.
No fim, as criaturas não são programadas para começar a cooperar e fluir como um corpo único. “Com a seleção natural, alguns vivem e alguns morrem”, afirma Ward.
Consciência coletiva
Existem poucas exceções para essa regra. Colônias de insetos, por exemplo, são compostas por milhares de indivíduos, que agem em conjunto para garantir a sobrevivência. “Sociedades como as das abelhas e formigas são o máximo do altruísmo”, diz Ward.
Por isso não fica totalmente fora de questão uma série de seres, em uma colônia única gigante, que agissem como uma mente apenas, até que os recursos acabassem.
Essa noção, entretanto, traz um problema: comunicação. Formigas usam feromônios para se comunicar, e nossos corpos usam nervos. Mas imagine um organismo do tamanho da Terra.
“Se o pensamento for de certa maneira distribuído (em um planeta inteligente), ele será mais lento do qualquer coisa que você possui em casa”, afirma o astrônomo Seth Shostak.
Gaia?
Apesar de todas essas considerações, alguns cientistas defendem o argumento de que a Terra deveria ser pensada com um organismo gigante.
A “hipótese Gaia” propõe que a vida na Terra funciona em conjunto, para manter o habitat sustentável. Dessa maneira, a salinidade e o pH dos oceanos, por exemplo, seriam ideais porque a vida fez dessa maneira.
A hipótese é muito controversa, já que temos muitos casos em que a ideia da Terra tomando ações para defender a vida parece não se sustentar. “A vida já se sabota muito sem estar conectada através da inteligência”, comenta Ward.
Shostak também não acredita muito nisso. “Após bilhões de anos aqui, nós não vemos muito a flora e fauna fazendo isso. Tudo é interdependente, mas poucos se comportam como um único organismo”.
Pelo jeito, no momento, a hipótese Gaia fica no campo da ficção. [LiveScience]

Cozinhar foi o que nos tornou humanos, diz pesquisador

 

macaco cozinhando na cozinha
Richard Wrangham é professor de antropologia da Universidade de Harvard, estudou chimpanzés na Tanzânia e tem uma opinião única sobre o que fez com que os humanos se tornassem diferentes de todos os outros animais: a nossa habilidade de cozinhar. Segundo o pesquisador, a idéia surgiu como resposta à questão de quanto tempo os humanos teriam sobrevivido sem o fogo. “Parecia para mim que ninguém poderia sobreviver sem isso”, diz.
Em seu livro “Catching Fire” (sem edição em português), Wrangham demonstra como percebeu, enquanto vivia com chimpanzés, que um humano não teria conseguido viver com a mesma dieta de um destes animais, por exemplo. “Entre na floresta, encontre algumas frutas, e veja se você fica satisfeito”, questiona o autor. De acordo com ele, a grande dificuldade deste tipo de alimentação é que a densidade nutritiva é muito baixa. “Isto é problemático para os humanos porque temos o intestino pequeno, cerca de 60% do volume daquele dos grandes primatas”, explica. “Não temos intestino suficiente para manter alimentos de baixa qualidade no nosso corpo por tempo suficiente para digeri-lo”, diz.
» 10 mistérios sobre a evolução humana
Mudanças radicais
De acordo com o pesquisador, os corpos humanos passaram a mostrar adaptações há cerca de 1,9 milhões de anos atrás. Naquela época, nossos ancestrais eram semelhantes aos chimpanzés, mas começaram a andar em duas patas – o avanço das técnicas de cozinha levaram a um maior consumo energético. “A maximização do consumo de energia através do alimento permitiu que perdêssemos um terço do intestino e sofrêssemos uma enorme expansão do cérebro”, afirma Wrangham.
As estimativas quanto ao início da humanidade com as técnicas de cozimento dos alimentos são confusas: algumas apontam que elas iniciaram há um milhão de anos, enquanto outras afirmam que começaram há apenas 50 mil anos. De qualquer modo, o autor acredita que o processo levou a uma divisão do trabalho entre os homens e as mulheres, pois cozimento impõe um atraso entre o momento da coleta de comida e o momento da refeição, o que significa que outras pessoas poderiam roubar a comida.
» O homem moderno é um fracote
“Um modelo simples de relacionamento social teria um grupo de indivíduos dominantes – os machos – e um grupo subordinado – as mulheres – que cozinhariam protegidas pelos homens”, explica. Segundo o pesquisador, o padrão pode ser observado em muitas sociedades tribais – o que já o fez ser acusado de machismo. Quanto a esta acusação, o autor se defende explicando que esta é apenas uma descrição sobre o que supostamente acontecia há muito tempo. “As mulheres historicamente cozinham em todas as sociedades, exceto nas modernas e industriais, mas isso não significa que eu defenda este modelo e nem que acho que isso deva acontecer atualmente”, diz. [NewScientist]

A seleção natural ainda está entre nós?

 


Se você for um daqueles biólogos evolucionistas que propaga aos quatro ventos que a seleção natural não age mais sobre nós, melhor pensar novamente, porque pesquisadores da Universidade de Sheffield, no Reino Unido, e do Wissenschaftskolleg de Berlim (Centro para Estudos Avançados, em tradução livre), na Alemanha, acharam sinais de que ela ainda estava entre nós há pelo menos 200 anos. E ainda pode estar.
Esse pequeno aviso merece destaque porque contradiz uma hipótese bastante aceita, porém ainda polêmica no mundo acadêmico, de que a evolução humana parou há 10 mil anos – alguns cientistas vão mais além e acreditam que ela se estagnou há 50 mil anos. Para se ter uma ideia, alguns psicólogos creem que a mente humana não evoluiu (no sentido de mudança, apenas, sem necessariamente ser para melhor) desde o fim da Era do Gelo, há cerca de 10 mil anos.
O estudo foi publicado no renomado periódico Proceedings of the National Academy of Sciences e já coleciona entusiastas, como o biólogo evolucionista Jacob Moorad, da Universidade Duke, nos Estados Unidos, que não teve participação na pesquisa. “A seleção natural ainda acontece nos seres humanos modernos. Sem dúvida”, sentencia Moorad.
Pistas do interior da Finlândia
A descoberta é resultado de uma análise detalhada da vida de quase 6 mil pessoas, nascidas entre 1760 e 1849, em quatro vilarejos finlandeses. Foram estudados os registros de nascimento, morte e casamento de cada uma dessas pessoas.
De acordo com o biólogo evolucionário Alexandre Courtiol, principal mente por trás da pesquisa, foi escolhido esse período e essa população porque a revolução agrícola já estava consolidada e porque os vilarejos finlandeses eram caracterizados por regras rígidas no que diz respeito à monogamia, ao divórcio e às relações extraconjugais. Além de que o país possui um dos melhores acervos genealógicos do mundo, graças aos registros feitos pelas igrejas locais.
Courtiol e seus colegas se debruçaram sobre quatro aspectos principais que afetam a sobrevivência. São eles: quem vivia além dos 15 anos, quem se casava, quem se casava mais de uma vez e quantas crianças eram tidas em cada casamento.
O número impressiona: quase 50% dessas pessoas morreram antes de completar 15 anos. Segundo o biólogo do instituto alemão, isso sugere que essas pessoas tinham características desfavoráveis, como uma maior suscetibilidade a doenças, por exemplo.
Resultado: esses não conseguiram passar seus genes para frente. Dos que passaram da décima quinta primavera, cerca de 20% não se casaram e não tiveram filhos.
De novo, segundo os cientistas, isso sugere que algumas características impediram esses indivíduos de conseguir uma parceira. E os números prevalecem sobre qualquer diferença social que pudesse existir.
Seleção sexual
Courtiol conta que também havia seleção sexual, na qual os homens que conseguiam atrair mais parceiras tinham uma prole mais abundante. Assim, a variação no número de filhos girava de zero a 17, o que representava uma boa oportunidade para a seleção natural ocorrer e a evolução tomar seu rumo.
“A importância da seleção sexual é amplamente aceita em aves e peixes, mas é a primeira vez que se constata esse tipo de seleção em humanos”, afirma o biólogo Stephen Stearns, da Universidade de Yale, nos Estados Unidos.
Agora é aguardar por novas pesquisas, na esperança de que se possa comprovar – ou não – a ocorrência da seleção natural nos dias de hoje. [Wired/PNAS/ScienceDaily/ScienceNews/NewYorkTimes/LiveScience/Foto]

Novo Reino na natureza

Estranho organismo recém-descoberto inaugura novo reino da natureza


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Por em 2.05.2012 as 16:35
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Um organismo unicelular descoberto na Noruega está dando o que falar. Segundo cientistas, ele é tão diferente de todos os organismos conhecidos até hoje que um novo grupo base, conhecido como novo reino, foi criado: Collodictyon.
Esse organismo singular foi encontrado em um lago no sul de Oslo, Noruega. De acordo com a cientista Kamran Shalchian-Tabrizi, da Universidade de Oslo, não há outro ser vivo que descenda de tão perto das raízes da árvore da vida.
“O micro-organismo está entre os mais antigos eucariontes. Ele evoluiu há cerca de um bilhão de anos. Ele nos mostra como a Terra parecia ser no início”, diz Shalchian-Tabrizi.
Os cientistas noruegueses analisaram o genoma do organismo encontrado e descobriram que ele é eucarionte, mas não se enquadra em nenhum dos grupos principais (animais, plantas, fungos, algas ou protistas).
Ele tem de 30 a 50 micrômetros (a espessura de um cabelo humano) e se alimenta de algas, preferindo viver sozinho, em detrimento de conviver em grupos. Sua singularidade também reside no fato de ter quatro flagelos, ao invés de um ou dois, o que seria considerado normal.
O micro-organismo também tem características que são marcas das algas e das amebas, pertencentes a dois reinos eucariontes diferentes.
Devido a esse motivo, os pesquisadores acreditam que o micro-organismo seja o ancestral desses dois reinos. [MSNBC]

Feminicídio - morte de mulheres

Brasil - PCO - Em uma parte do Mapa da violência 2010 realizado pelo Instituto Sangari com informações do Datasus é mostrado que dez mulheres foram assassinadas por dia em dez anos.


Foram divulgados números a respeito do assassinato de mulheres no Brasil baseado em estudo feito pelo Instituto Sangari. A pesquisa foi feita com análise de dados do Sistema Único de Saúde (Datasus) nos anos de 1997 a 2007. Nestes dez anos, 41.532 mulheres morreram vítimas de homicídio o que é um índice de 4,2 assassinatos por 100 mil habitantes.
Segundo dados do instituto este estudo é um apêndice de um trabalho maior que está sendo realizado que é o Mapa da Violência no Brasil 2010.
As taxas de assassinatos femininos no Brasil são mais altas do que da maioria dos países europeus em que os índices não ultrapassam 0,5 por 100 mil habitantes.
Os que lideram a lista são África do Sul, com 25 assassinatos por 100 mil habitantes e Colômbia, com 7,8 por 100 mil.
O estudo mostra que algumas cidades brasileiras registram índices mais altos. Em 50 municípios, os índices de homicídio são maiores que 10 por 100 mil habitantes. O Espírito Santo ocupa o primeiro lugar, com índices de 10,3 assassinatos de mulheres por 100 mil habitantes.
Na pesquisa, São Paulo é o quinto Estado menos violento do Brasil, com índice de 2,8 por 100 mil habitantes.
Esta é uma maneira de manter metade da classe trabalhadora brasileira ser ainda mais oprimida e subjugada.
Desta maneira, a burguesia consegue amordaçar este setor importante, que são as mulheres, cerca de metade da população, para a mobilização da classe trabalhadora.

A criança em seu mundo - Mário Sérgio Cortella

De acordo com o educador Mário Sérgio Cortella, nós estamos sacando o futuro por antecipação. Significa que nós estamos gastando os meios que permitiriam a existência de próximas gerações. Segundo sua análise, nós anunciamos às crianças: "Não haverá futuro, não haverá meio ambiente, não haverá segurança, não haverá trabalho. Vocês não têm presente!" A criança tem o mundo da imaginação, da poesia, da fábula, da infância, e muitas vezes, os adultos não conseguem entrar nesse mundo. Mas, segundo o próprio educador, é preciso criar relações mais próximas com as crianças e saber quais são as suas necessidades e desejos para que possamos formar cidadãos conscientes e atuantes. O programa traz ainda a participação da atriz Maria Luisa Mendonça que interpreta o poema "Verbo Ser", de Carlos Drummond de Andrade e texto de Carl Jung. O programa Café Filosófico é uma produção da TV Cultura em parceria com a CPFL Energia
http://youtu.be/fcxn5ybLNb8

Que país é esse? Que povo é esse que aceita uma decisão dessas passivamente?

Três meninas e uma sentença


Apesar dos seus 12 anos, o adulto que as possui é somente ‘imoral e reprovável’?
uízes do Superior Tribunal de Justiça absolveram do crime de estupro um homem que teve relações sexuais com três meninas de 12 anos. O tribunal alegou que elas não eram “ingênuas, inocentes, inconscientes a respeito de sexo”. As meninas se prostituíam, ergo, a atitude do réu, “imoral e reprovável”, não configurava esse crime.
A nota do STJ, defendendo- se da enxurrada de criticas suscitadas pela decisão, informa que o tribunal permitiu ao acusado produzir provas — dada a absolvição, devem ter sido consideradas convincentes — de que o ato sexual se deu com o consentimento do que a nota chama de “suposta vítima”.
A sociedade brasileira, estarrecida com a sentença, tem o dever de se perguntar que valores informaram essa interpretação jurídica e o direito de julgá-la severamente. Crianças de 12 anos que, abandonadas por quem lhes deveria acolher e educar, família e estado, entregues à violência das ruas, se prostituem são objeto de um desprezo ancestral que dois mil anos de compaixão cristã não conseguiram apagar. Ainda há quem atire a primeira pedra.
Quando uma decisão ofende a sociedade, a pedra, como um bumerangue, volta. O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos e as instâncias que, no Executivo e no Legislativo, protegem esses direitos, deploraram a decisão. A opinião publica condenou os juízes por insensibilidade.
Não lhes comoveu o destino dessas crianças, órfãs de tudo, que até hoje, por descaso, o Brasil não conseguiu perfilhar. E, no entanto, elas nos são bem conhecidas, desde as páginas de Jorge Amado. Contra elas nada é crime. Despojadas de direitos, vegetam nas esquinas e praças das grandes cidades como restos humanos, tratadas como malditas, pequenas Genis, “boas de apanhar, boas de cuspir”.
Há pouco tempo, no estado do Pará, uma menor infratora foi jogada por ordem de uma delegada de polícia na cela de detentos que a estupraram. Quem se lembra? Alguém foi condenado?
O tribunal achou relevante salientar que a “educação sexual das jovens certamente não é igual, haja vista as diferenças sociais e culturais”. Que sentido tem, nesse contexto, estabelecer essa diferença? Afirmar que elas não eram ingênuas? As diferenças sociais e culturais que lhes tiraram a “inocência” e a “ingenuidade”, requeridas pela juíza relatora para enquadrá-las na figura da vítima, são, por acaso, culpa delas?
Por que se prostituem — e o que quer dizer isso quando se trata de crianças — não existe violência contra elas? Apesar dos seus 12 anos, o adulto que as possui é somente “imoral e reprovável”?
Quem, em sã consciência, chamaria de consentimento o ato de se prostituir na infância? Teriam as meninas consentido do alto de seu bom-senso e maturidade, amplo domínio de suas emoções e destinos?
Em nenhuma hipótese, a relação sexual de um adulto com meninas de 12 anos deixa de ser uma violência.
Qualquer pessoa que vê meninas se prostituindo procura uma autoridade que as tire da rua e se ocupe delas ou, pelo menos, indignado, lamenta a sua sorte. Não vai se deitar com elas. Se o faz, aproveita-se não da ingenuidade, exigida pelo tribunal para condenar o acusado, mas da vulnerabilidade, de que fala o Código Penal, ao capitular como estupro de vulnerável a relação com menor de 14 anos.
A nota do tribunal avisa que “nada impede que, no futuro, o STJ volte a interpretar a norma e decida de modo diverso”. Enquanto os juízes, de tempos em tempos, vão mudando as interpretações da norma, que mulheres irão se tornando essas meninas que, já na infância, marcadas com o estigma da prostituição, perdem todos os seus direitos? Quando alguém for enfim considerado culpado por juízes mais bem afinados com seu tempo e com o mérito do que julgam, quem lhes devolverá a justiça que lhes foi negada?
Quando o ministro da Justiça, ainda que declarando-se contrário à decisão do tribunal, diz que ela tem que ser “respeitada”, pede muito de nós, escolhe mal a palavra. Melhor seria dizer “cumprida”. Decisões desse tipo, que vão contra o bom-senso mais elementar, provocam inconformidade e indignação por parte de uma sociedade cada vez mais alerta na defesa de direitos. O que é legítimo e auspicioso.
O repúdio nacional e internacional que a decisão colheu deveria ter dado aos juízes a medida do seu equívoco. Mas não. Investindo-se no papel de Tribunal da Cidadania, repeliram as críticas, que definiram como levianas. Enganam-se mais uma vez. No verdadeiro tribunal da cidadania, os juízes somos todos nós. E, aí, a condenação é certa e sem apelação.
O Globo, de 14 de abril de 2012